VIDA

paisdealuno

Alessandra, mãe da Aluna Nathalia

Dizem que toda história tem (pelo menos) dois lados.

Recentemente escrevi um texto retratando minha experiência na busca de uma escola que aceitasse inclusão de crianças especiais. Infelizmente só tive aspectos negativos a relatar. Então, uma amiga querida pediu que eu contasse um pouco sobre a escola que minha filha frequentou e sobre sua escola atual para mostrar que inclusão é possível, sim!

Cada vez que uma mãe procura uma escola para seu filho, leva em consideração uma lista de requisitos: higiene, segurança, profissionais, instalações, currículo pedagógico, entre outros milhares de itens. Quando uma mãe especial visita uma escola, além de todas estas considerações, ela vê as crianças que vão interagir, as assistentes de classe que vão carregar seu filho, os barulhos do ambiente, se há espaço para a cadeira de rodas passar, como é o trocador, se tem escadas, quem vai alimentar a criança. A lista de preocupações é infinita!

Como vamos saber o que acontece nas horas que estamos longe se o nosso filho não fala????? Esse é nosso primeiro engano, porque ele fala sim! São os sorrisos ao ver as “tias” da escola, a alegria ao vestir o uniforme, as mãozinhas esticadas pedindo colo para entrar, as batidas impacientes na porta, porque estão demorando para atender a campainha, ou até mesmo quando ele fecha a porta querendo dizer “tchau, mamãe”.

Há 4 anos decidimos que estava na hora da Nathalia entrar para uma escola. As consultas médicas haviam diminuído, as terapias tinham virado rotina e o ambiente familiar já não era suficiente para nossa curiosa exploradora que estava crescendo.

Como ela já havia frequentado um berçário por alguns meses quando era bebê, conhecíamos todas as escolinhas da região.

Numa destas coincidências da vida, acabamos encontrando uma escola que não havíamos visitado e foi “amor à primeira vista” de ambas as partes. A dona da escola informou que não tinham experiência com alunos especiais, mas, de qualquer forma, ela estava aberta a conhecer e fazer um período de teste com a Nathalia. Foi o teste mais curto que vi, porque no segundo dia ela já considerava minha filha mais uma aluna regular da escola.

Apesar de suas dificuldades, a escola sempre adaptava as atividades realizadas pelos alunos de forma que a Nathalia participasse o máximo possível. Ela era sempre incluída nas coreografias das apresentações nas festas, nos projetos escolares e fazia semanalmente aulas de balé (e adorava, claro!!!).

E assim passaram-se os anos e percebi que as crianças que conviveram com a Nathalia aprenderam que não tem problema se ela não anda, não fala, se ainda usa fraldas ou mamadeira, se ela grita ou joga algum objeto de vez em quando, se ela ainda usa babador. Eles a tratam como uma criança comum. Conhecem sua música predileta (que virou “a música da Nathalia”), trazem seus brinquedos preferidos, querem dar o suco, sabem que quando ela chora basta cantar “Parabéns prá você” que ela começa a sorrir, mostram para as mães na rua que “aquela é a Nathalia”, acenam e dizem “tchau Nathalia” todos os dias.

Fazem 5 meses que a Nathalia trocou de escola e tentamos visitar o berçário pelo menos uma vez por mês. Todos ficam muito felizes com essa visita. Há sorrisos, beijos, abraços, gritos e muito carinho.

Com uma experiência tão gratificante como esta, a preocupação com relação a mudança é inevitável e mais uma vez a vida nos mostrou o caminho e, por coincidência, encontramos a escola de ensino fundamental perfeita. O conhecimento, a preocupação e o carinho dos profissionais da nova escola são tão grandes que nossa princesa está aprendendo, desenvolvendo-se e se acostumando que o mundo é grande, cheio de descobertas e não há limites para o que ela possa ser e fazer.

Estas duas experiências mostraram que amor, respeito e confiança são fundamentais nesta relação tão especial e, com um pouco de boa vontade, damos a estes seres especiais chances de uma vida mais justa e feliz. E ainda, de quebra, mostramos para as demais crianças como incluir e aceitar esses amigos tão especiais.

Colaboração de Alessandra Lucchesi, economista, mãe de Nathalia, 6 anos, uma criança muito especial em todos os sentidos.